5.14.2009

refletindo o 13 em 13 minutos

Até alguns anos atrás o dia 13 de maio era, para imprensa brasileira, um dos poucos dias cujo espaço para o negro era reservado para além das páginas policiais ou esportivas. No entanto, ontem ao abrir os jornais qual foi a minha surpresa?

Não havia uma nota, artigo ou qualquer outra menção a efeméride...surpreendente! Tal fato me fez refletir sobre duas possibilidades:

- ou a data reservada à discussão da comunidade afro, reservada pela imprensa, passou a ser o 20 de novembro e a população não foi avisada,
- ou não ocorrem discussões relevantes na comunidade afro, para ocupar o espaço nos jornais e a página de esportes continua sendo a nossa cota diária.

Agora, o mais inusitado foi que no dia 12 (terça-feira) o Educafro organizou um desfile com modelos negros em frente à Catedral da Sé. O único jornal que públicou nota (com direito a chamada na capa) foi o Metro, os demais não citaram uma palavra sobre o evento.

Mais uma vez pergunto: um evento com modelos negros reivindicando espaço num dos principais eventos de moda, a SPFW, que acontece daqui a um mês, não é relevante?

Quem são estes modelos? Por quais razões eles não estapam os anúncios de moda? Se o mercado de moda está crescendo, porquê não espaço para negros?

Hoje, quando abro o jornal havia uma nota falando do ministro Edson Santos (SEPPIR), em que ele falava sobre um novo programa de ações afirmativas (texto acima). Claro, que mais uma vez a reportagem se ateve em falar das cotas...pois, quando falamos de negros falamos de cotas, apenas disso, não há nenhuma outra discussão pertinente acontecendo na comunidade.

Sei que este texto está num tom amargo, ou até mesmo, irritado...mas, saber que as pessoas se quer sabem quais são os motivos que levam o movimento negro a se mobilizar no Vale do Anhangabaú no dia 13 de maio, ainda me choca...muito!

Ainda ontem um amigo me perguntou, pelo twitter, o que era o dia 13 de maio, expliquei e ele me respondeu "mesmo que fosse feriado eu teria que vir trabalhar, ainda bem que não é". O que eu respondi? Nada. Fiquei em silêncio...

Na semana passada fui ao Congresso de jornalismo cultural, quantos negros compunham a mesa de debate? Nenhum. Quantos negros na platéia? Havia pelo menos duas pessoas: eu e uma jornalista. Aonde estão os negros jornalistas?

Quando vejo que nem mesmo os professores na faculdade levam a discussão para dentro da sala de aula e assumem "a minha abordagem é eurocêntrica", os argumentos me fogem e respiro muito fundo e busco encontrar a diversidade noutros lugares...fora das páginas cinzas dos jornais, da sala de aula, da tv...vou para as ruas e vejo que a maioria das crianças e adultos em situação de rua são negros... e eu, dentro de uma minoria sou negra e jornalista, tentando compreender e modificar o espaço que me foi reservado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário